Grampos da Polícia Federal indicam que o apartamento funcional em que
mora o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) em Brasília serviu de ponto
de encontro da cúpula da chamada “máfia dos caça-níqueis” em Goiás e no
Distrito Federal. Em conversas interceptadas pela Operação Monte Carlo, o
sargento Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, apontado como um dos
operadores de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, relata uma
reunião de integrantes do esquema no local.
Celso Junior/AE
Bloco dos senadores. Apartamento funcional fica na Asa Sul
No telefonema de 17 minutos, gravado em 21 de dezembro de 2010, Dadá
diz a Lenine Araújo de Souza - segundo homem na hierarquia do esquema,
responsável pela administração contábil do grupo, conforme a PF - que
está no Bloco C da Quadra 309, na Asa Sul, em Brasília.
Trata-se do chamado bloco dos senadores, onde Demóstenes e outros
parlamentares ocupam apartamentos funcionais cedidos pelo Senado. “Está
aonde?”, indaga Lenine. “Aqui na 309, Bloco C, no estacionamento, na
Sul, na Asa Sul”, responde o sargento.
Segundo as transcrições, às quais o Estado teve
acesso, foram ao local Cachoeira, ao qual Dadá e outros integrantes do
grupo se referem como “o homem”; Cláudio Dias de Abreu, citado no
inquérito como sócio do empresário em negócios ilegais, e Wladimir
Garcez Henrique, que seria seu braço direito, encarregado de obter
facilidades nas Polícias Militar e Civil de Goiás. O Bloco C e o Bloco
G, onde mora Demóstenes, são unidos e têm estacionamento e portaria
comuns.
‘Não posso sair’. Eram cerca de 16h40 e, na
conversa, Dadá dizia estar em frente ao prédio desde a hora do almoço.
“O homem está aqui, Cláudio, está aqui, não posso sair”, explicou a
Lenine. Demóstenes estava em Brasília nesse dia, conforme registros do
Senado. Procurado nesta terça-feira, 3, seu advogado, Antônio Carlos de
Almeida Castro, não se pronunciou.
Segundo o inquérito, após o encontro no prédio, o grupo seguiu para
reunião com um advogado não identificado. “Encontramos com o homem aqui
na 309. A gente está indo lá pro Gustavo, advogado no Lago Sul”, diz o
sargento.
O inquérito da Monte Carlo comprova a extensa teia de relações do
grupo, que se valia de contatos nos mais diversos órgãos. Numa das
conversas, Gleyb Ferreira da Cruz - elo de Cachoeira com o delegado da
PF Deuselino Valadares - comenta com um interlocutor sobre a
possibilidade de “entrar com um interesse” na Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac) para resolver um negócio de R$ 300 mil.
Em outra, Dadá telefona para um policial federal pedindo que obtenha,
em tempo recorde, passaporte especial ou diplomático para um
desembargador. Segundo o inquérito, Cachoeira controlava o jogo em Goiás
e no Distrito Federal. O dinheiro obtido como comissão de operadores
das casas de jogos era lavado em diversas empresas. Dadá também era o
elo entre Cachoeira e funcionários da Receita e da Infraero para obter
facilidades na entrada de integrantes do grupo com mercadorias pelo
Aeroporto de Brasília.
FONTE E REDAÇÃO: http://www.estadao.com.br
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