Ana Beatriz Nogueira e Fernanda Vasconcellos protagonizam a novela
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MARIANA TRIGO
A Vida da Gente é uma trama de época embalada com tom e cenário contemporâneos. Com uma história recheada de pinceladas lúdicas, como o amor entre irmãos postiços, cenas juvenis de adolescentes fazendo excursões ao som de gaitas e violões e uma intensa e melodiosa trilha incidental, a produção seduz pela ingenuidade dos arquétipos muito bem definidos. Quase todos os personagens da história da autora estreante em novelas Lícia Manzo parecem ser moldados para o horário das seis. Após a fábula de estilo quase rococó de Cordel Encantado, a faixa agora passa a ser ocupada por elementos simples e emotivos, como as intensas relações familiares, traições e amores abalados por tragédias do cotidiano.
Como o próprio nome da produção sugere, a trama é composta de personagens simples, mas bem delineados pelas composições de seus intérpretes. Fernanda Vasconcellos, como a intensa e promissora tenista Ana, convence com uma emotividade presente em quase todas as cenas, assim como Manu, de Marjorie Estiano, irmã da protagonista. Marjorie soube esculpir sua personagem manca e sem graça com a máxima "menos é mais" para não cair na caricatura. Já Ana Beatriz Nogueira se destaca como a mãe controladora e linha dura revelando uma vilã humanizada, embasada em uma atuação sem artifícios cênicos.
Com cenários paradisíacos em locações que fogem do eixo Rio-São Paulo, a história "respira" em paisagens do Sul do país, com ênfase nas tomadas mais campestres. Os "takes" em câmara lenta, como os captados embaixo da água com os protagonistas nadando em uma espécie de "balé de acasalamento", denunciam a assinatura autoral da direção de Jayme Monjardim, que sempre tenta transformar simples tomadas em imagens poéticas.
Com estreia de 23 pontos na audiência, um a menos que obteve Cordel Encantado no primeiro dia de exibição, a trama conta com uma leve semelhança com as histórias naturalistas de Manoel Carlos. Certamente, essa "coincidência" é fruto da forte condução da direção de Jayme, que tem emplacado diversas parcerias com o autor. Um desses pontos em comum aparece já na abertura da produção ao som de Maria Gadú cantando uma versão da canção Oração ao Tempo, de Caetano Veloso, com fotos que parecem sair do baú de memória dos personagens principais. A abertura lembra muito a de Por Amor, que era um mosaico de fotos pessoais de Regina e Gabriela Duarte, que interpretavam mãe e filha na história de Manoel Carlos. A Vida da Gente, no entanto, traz uma embalagem mais genuína, que lembra as singelas tramas das seis de tempos atrás.
FONTE E REDAÇÃO: http://diversao.terra.com.br