Embora ainda faça parte de tabelas de bancos, o financiamento de
veículos em 60 meses (cinco anos) e as propostas sem entrada sumiram do
mercado.
Em meio ao cenário recorde de inadimplência no setor, um piso informal tem sido adotado como sinal para a compra: 20% do valor.
"Se passar proposta [de 60 meses ou sem entrada], só é aprovada se for
milionário", brinca o presidente da associação das concessionárias Ford,
Sergio Zardo.
Segundo ele, o pedido antecipado do mínimo de 20% "evita o
constrangimento do cliente" diante de uma possível reprovação da
proposta.
Hoje, com o maior rigor nas análises, de três a cinco consultas, em cada
dez, são aprovadas apenas, o contrário de dois anos atrás.
No balanço do quarto trimestre, quando teve prejuízo de R$ 605 milhões, o
Banco Votorantim, um dos maiores em carros usados, informou a adoção do
mínimo de 20%.
A mudança significa maior prudência em meio ao temor de bolha no setor. O
percentual garante cobertura para a depreciação do carro no primeiro
ano em caso de inadimplência.
"Sem as medidas do BC (de restrição ao crédito) no fim de 2010,
provavelmente a inadimplência estaria bem mais elevada. Isso expõe uma
potencial bolha que agora já está com o risco mais reduzido", diz
Wermeson França, economista da LCA.
Mais do que ter acesso às taxas reduzidas anunciadas pelos bancos,
portanto, o desafio para a classe média emergente é conseguir crédito,
já que clientes em busca do carro de "entrada" --modelo 1.0 e primeira
aquisição-- são os mais afetados nessas condições. O pênalti se dá tanto
pelas restrições como pelos juros maiores.
"É óbvio que com entrada, eu vou reduzir os compradores, mas o que
adianta eu liberar para quem não vai pagar. Para comprar, tem que ter
condições", diz a planejadora financeira e professora da FGV, Myrian
Lurd.
Essa perspectiva levou a Fenabrave, associação que reúne as
concessionárias, a revisar de 5,76% para 3,5% previsão de crescimento
das vendas para este ano.
POUPANÇA
Segunda Lurd, o rigor maior na concessão de crédito é positivo, pois
força o brasileiro a fazer ao menos uma pequena poupança para adquirir o
bem. Como condição de compra consciente, Lurd sugere uma entrada de 20%
e prazo de até três anos. Ela lembra de custos adicionais, como seguro e
IPVA, com os quais a parcela não fica em menos de R$ 1.000, segundo a
consultora.
Na outra ponta, clientes com capacidade de dar entradas maiores, de 40% a
60%, têm se beneficiado de taxas subsidiadas de até 0,99%. O incentivo,
que ganhou força nos últimos meses, tem função dupla: reduzir estoques e
melhorar as carteiras.
Os movimentos elevaram a média das entradas nas compras. Foram de 15%
para 30% nas lojas Ford e de 37,3% para 41,2% no Votorantim.
Mesmo para clientes nessa posição, a recomendação é ter cautela e
planejar. "Os juros vão continuar baixos. Não precisa sair correndo para
comprar agora.", afirma Lurd.
FONTE E REDAÇÃO: http://www1.folha.uol.com.br